Paisagens da internet
O trabalho apresentado pretende refletir acerca da natureza da linha enquanto sistema gráfico interpretativo de superfícies, da sua capacidade sinestésica e da importância que tem na perceção visual.
Abordando a representação gráfica tendo por influência o desenho a tinta de Eugéne Delacroix (“Leão e tigre a lutar”. Graphische Sammlung, Museu Albertina, Viena), assim como os mais variados estudos de Leonardo da Vinci do movimento e fluidez da água, propus-me a entender a capacidade da linha em produzir imagens que refletissem acerca da noção de desconforto visual, e da dimensão tectónica que a imagem plana pode adquirir. Esta noção é consequentemente pertinente na atitude crítica para com a ideia da imagem digital e do tipo de fruição que temos delas. Neste sentido, no exercício proposto de interpretação de imagens oriundas da internet, procurou-se suprimir a escala de tons e de valores da imagem, da qual inferimos informação que nos auxilia à interpretação do que estamos a observar e substitui-la por informação volumétrica produzida segundo o sistema gráfico que denominamos por “trama”[1].
Esta é produzida pela utilização de linhas de relevo, as quais foram designadas de “linhas geodésicas” por salvador Dali[2], e que Graham Collier definiu como volumes espaciais[3], propondo-se assim uma representação quase escultórica da imagem, segundo um regime gráfico que foi amplamente explorado por Henry Moore na sua obra gráfica.
Os desenhos foram realizados da forma mais homogénea possível de maneira a não produzir nem contornos nem informação de claro-escuro, tentando assim conceber uma imagem que pelo seu condicionamento visual traduzisse apenas uma sensação de superfície e de textura.
Desta forma, a origem e significado das imagens transfiguram-se num outro estado, em que se produz uma ambiguidade e contaminação acerca do que é representado, onde o desenho produz uma sensação diferenciada da sua referência. A não identificação de um motivo ou significado pretendem também romper com a lógica de observação e de fruição das imagens instantânea de que Al Foster nos fala já no seu texto de 1996[4], onde refere os seus receios relativamente ao carácter “dis/conecto” que a tecnologia digital propicia do real. A dificuldade em produzir sentido e a necessidade em “perder tempo” a descodificar o objeto gráfico, procuram desta forma quebrar o sistema de fruição e de reprodução que se tem vindo a impor sobre nós pelos dispositivos que utilizamos para nos relacionar com o mundo. Tal como Frederic Jameson no início dos anos 90 do século passado referiu, os dispositivos tecnológicos de que estamos tão dependentes são máquinas de reprodução ao invés de produção[5] podendo desta forma a produção artística refletir acerca do estado de conforto em que nos colocamos para com o mundo das imagens.
[1] No desenho de representação a trama caracteriza-se por ser um dos procedimentos gráficos na criação da sombra, da perceção do volume e do espaço assim como um meio de sugerir texturas. Define-se pela aplicação de linhas paralelas entre si com diferentes espessuras e distâncias criando desta forma a perceção de luz, sombra e superfície.
[2]Cabezas, Lino, “El manual contemporáneo” in, Molina, Cabezas, Bordes. (2001). El Manual de Dibujo, Estrategias de su Enseñanza en el siglo XX. Cátedra. p.150.
[3]Collier, Graham. (1985). Form, space and vision. An introduction to drawing and design. Prentice-Hall.
[4] Foster, Hal (1996) The Return of The Real, London: MIT Press.
[5] Jameson, Frederic (1991) Postmodernism, Or the Cultural Logic of Late Capitalism, Duke University Press. P.36.
O trabalho apresentado pretende refletir acerca da natureza da linha enquanto sistema gráfico interpretativo de superfícies, da sua capacidade sinestésica e da importância que tem na perceção visual.
Abordando a representação gráfica tendo por influência o desenho a tinta de Eugéne Delacroix (“Leão e tigre a lutar”. Graphische Sammlung, Museu Albertina, Viena), assim como os mais variados estudos de Leonardo da Vinci do movimento e fluidez da água, propus-me a entender a capacidade da linha em produzir imagens que refletissem acerca da noção de desconforto visual, e da dimensão tectónica que a imagem plana pode adquirir. Esta noção é consequentemente pertinente na atitude crítica para com a ideia da imagem digital e do tipo de fruição que temos delas. Neste sentido, no exercício proposto de interpretação de imagens oriundas da internet, procurou-se suprimir a escala de tons e de valores da imagem, da qual inferimos informação que nos auxilia à interpretação do que estamos a observar e substitui-la por informação volumétrica produzida segundo o sistema gráfico que denominamos por “trama”[1].
Esta é produzida pela utilização de linhas de relevo, as quais foram designadas de “linhas geodésicas” por salvador Dali[2], e que Graham Collier definiu como volumes espaciais[3], propondo-se assim uma representação quase escultórica da imagem, segundo um regime gráfico que foi amplamente explorado por Henry Moore na sua obra gráfica.
Os desenhos foram realizados da forma mais homogénea possível de maneira a não produzir nem contornos nem informação de claro-escuro, tentando assim conceber uma imagem que pelo seu condicionamento visual traduzisse apenas uma sensação de superfície e de textura.
Desta forma, a origem e significado das imagens transfiguram-se num outro estado, em que se produz uma ambiguidade e contaminação acerca do que é representado, onde o desenho produz uma sensação diferenciada da sua referência. A não identificação de um motivo ou significado pretendem também romper com a lógica de observação e de fruição das imagens instantânea de que Al Foster nos fala já no seu texto de 1996[4], onde refere os seus receios relativamente ao carácter “dis/conecto” que a tecnologia digital propicia do real. A dificuldade em produzir sentido e a necessidade em “perder tempo” a descodificar o objeto gráfico, procuram desta forma quebrar o sistema de fruição e de reprodução que se tem vindo a impor sobre nós pelos dispositivos que utilizamos para nos relacionar com o mundo. Tal como Frederic Jameson no início dos anos 90 do século passado referiu, os dispositivos tecnológicos de que estamos tão dependentes são máquinas de reprodução ao invés de produção[5] podendo desta forma a produção artística refletir acerca do estado de conforto em que nos colocamos para com o mundo das imagens.
[1] No desenho de representação a trama caracteriza-se por ser um dos procedimentos gráficos na criação da sombra, da perceção do volume e do espaço assim como um meio de sugerir texturas. Define-se pela aplicação de linhas paralelas entre si com diferentes espessuras e distâncias criando desta forma a perceção de luz, sombra e superfície.
[2]Cabezas, Lino, “El manual contemporáneo” in, Molina, Cabezas, Bordes. (2001). El Manual de Dibujo, Estrategias de su Enseñanza en el siglo XX. Cátedra. p.150.
[3]Collier, Graham. (1985). Form, space and vision. An introduction to drawing and design. Prentice-Hall.
[4] Foster, Hal (1996) The Return of The Real, London: MIT Press.
[5] Jameson, Frederic (1991) Postmodernism, Or the Cultural Logic of Late Capitalism, Duke University Press. P.36.