A pintura está quase no fim. Tenho trabalhado sobretudo o fundo, o qual já vai na segunda tonalidade. Depois de ter sido verde escuro, optei por um tom mais quente, neste caso um castanho avermelhado que foi obtido com castanho Van Eyck, laranja cadmium e vermelho indiano.
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Já pintei todas as áreas do quadro, inclusive o pénis que somente estava esboçado, e que agora assume uma presença bastante acentuada. Esta dinâmica faz com que a observação (o olhar) oscile entre os olhos que nos observam directamente e com bastante brilho, e a volumetria e cor do pénis erecto que ocupa uma parte considerável da pintura.
Nesta fase da pintura surge-me ainda a dúvida relativamente à luminosidade do quadro. Um dos propósitos é o de colocar o quadro dentro de um espaço fechado com cortinas e tecto negro com um foco de luz que ilumine o quadro e que consequentemente, devido ao brilho que este terá, reflicta a silhueta do observador que o contempla nesse espaço privado e escurecido. Segundo esta premissa, não tenho a certeza se a luminosidade que o quadro possui , não será demasiada para que se consiga reflectir a silhueta de alguém como um espelho. A experiência terá lugar nas próximas sessões, de forma a obter os melhores resultados. "Miniaturas (ou thumbnails – unhas do polegar – na designação inglesa) são versões reduzidas de imagens, usadas para tornar mais fácil o processo de as procurar e reconhecer. Os motores de busca de imagem e programas de organização destas usam-nos muitas vezes, tal como alguns sistemas operativos e ambientes de trabalho modernos, tais como o Windows XP, KDE e o GNOME.
Nota que como os thumbnails automáticos reduzem imagens grandes para um tamanho menor, o resultado pode não ter uma elevada qualidade, o que resulta de um redimensionamento da imagem." Wikipedia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Thumbnail. Decidi abandonar este trabalho. A estratégia utilizada não estava a produzir o efeito plástico que pretendia. No caso do primeiro quadro, o facto das sobreposições serem quebradas, permite uma homogeneidade e um aspecto plástico diferente. Aqui, a sobreposição não parece funcionar. Por ser um trabalho de grande dimensão, em que a figura não tem uma escala natural, o sentido plástico pretendido perde-se. Ao contrário do trabalho anterior, esta pintura pretendia construir um conjunto de cenas retiradas de um video pornográfico amador que tinha como título "Greek Porn". Por ser filmado com uma câmara de baixa resolução e num ambiente escuro, a imagem tem muito má qualidade e perde-se na amalgama de movimentos, planos demasiado próximos e pelo facto de serem os intervenientes quem está ao encargo das filmagens, trocando de vez em quando de um para o outro. Esta constante mudança de planos, em que o interesse visual do que se pretende "ver", muda, sempre que passa para o outro interveniente a tarefa de registo interessava-me. A tentativa em produzir uma imagem que englobasse esses múltiplos olhares e objectivos visuais e os demonstrasse através da acção plástica da pintura (mancha, cor, transparência), conceptualizava o problema do conflito visual que as imagens do sexo produzem com o observador. Ao aumentar a escala para uma proporção muito maior do que aquela que a imagem é originalmente projectada, ou seja, no computador, e a multi-dimensionalidade e a imposição de vários momentos temporais da imagem num mesmo plano propunham criar uma dessincronização escópica. Infelizmente não se estava a concretizar no seu conjunto e portanto não vai ser concluído.
O processo continua. Acrescentei mais uma parte de figura, a qual se integrou no processo de construção/desconstrução que tenho levado a cabo. A tentativa em me aproximar de um processo pictórico que fizesse ecoar aquele que foi utilizado por Duchamp no seu "nu descendo uma escada" parece finalmente começar a fazer algum sentido. Neste caso, como é visível, a acumulação de representações não pretende mostrar uma imagem em que o movimento no espaço é perceptível em várias fases sucessivas e visíveis, mas sim o de actos e situações que as imagens utilizadas acabam por demonstrar.
A condição de uma imagem feita de imagens serve por um lado para poder evidenciar um conjunto de constatações a que as imagens de carácter sexual se submetem, como o é por exemplo a incompletude propositada do corpo, muitas vezes sem pés nem mãos enquadrados no plano da imagem, assim como a predominância contemplativa do corpo feminino, o qual é contemplado segundo categorias em que cada tipo de mulher é inserida, servindo assim determinados objectos de perversão. Por outro tenta acomodar um sentido plástico e formal que a pintura de forma explicita expõe, ou seja, o corpo, a matéria na pintura. Refiro-me ao corpo num duplo sentido (o qual Hans Belting tão claramente introduz na sua noção de iconologia. Belting, Hans. Image, Medium, Body: A new approach to Iconology, Critical Inquiry, Vol. 31, No. 2 (Winter 2005), pp.302-319. The University of Chicago Press.) O corpo como objecto de representação, que invoca a presença de uma ausência em algo que se materializa na tela como imagem do corpo feminino, desfragmentada e multiplicada em vários, não estabelecendo um modelo fixo e oscilando entre vários corpos múltiplos (braços, pernas, olhos, vaginas, umbigos e mamilos, que ora estão explícitos e concretos, ora estão subentendidos e sobrepostos) rasgados pela incompletude e incoerência da noção que temos de o que é um corpo e do lugar que as várias partes ocupam. Este corpo subentende um médium, um esquema tecnológico de representação. A imagem digital, proliferada pela internet condiciona e define a representação pictórica. o pixel, a partilha de código e o fluxo, ou a falta deste, que gera o erro, a sobreposição de dados, produzindo aspectos visuais inesperados em imagens que se pretendem o mais explicitas e inequívocas possível. O corpo é também entendido no seu papel de médium, ou seja de superfície que absorve e contempla a imagem e sem o qual ela não tem propósito, pois as imagens do sexo, e em especial as da pornografia, supõem no seu propósito mais básico o de serem contempladas por alguém que está do outro lado. Desta forma o observador, o voyeur, que Lacan identifica, permite este processo dialéctico, e pretende partilhar esta fisicalidade que a pintura pretende supor, pois é enquadrada numa tela do tamanho de uma porta, porta essa que nos dá acesso ao outro lado, onde uma imagem antropomórfica que tenta de alguma maneira, sustentar as proporções e escala que o corpo como nós o entendemos. Eva é pois um quadro que como a fábula cristã conta, supõem o processo de criação, no qual Deus usou da sua vontade, criando a primeira mulher a partir de uma costela de Adão o primeiro homem. Esta relação simbólica pretende supor uma noção de corpo em segunda instância, não menos verdadeiro que o do homem, mas diferente, quer pela diferença anatómica como pela ideia de universalidade que a primeira mulher supõe. As imagens incorporam esta analogia. O corpo de carne e osso não é mais verdadeiro ou real que a imagem fotográfica difundida na internet, nem esta é mais imagem que a pintura que apresenta diversos aspectos das anteriores. Não há origem, mas sim suportes e condições que abarcam sentidos. |
AuthorManuel Mendes develops paintings and drawings that reflect about the world of images, their apearence in the visual scenery and their consequent downfall. Is work also focus on visual representations and their implication on art scenery. Archives
June 2013
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